Gabriel Medeiros
No
chamado ‘país do futebol’ não poderia ser diferente que além de mais popular, o
futebol é também o esporte que recebe mais investimento, com alguns espaços
para outros. Nos esportes radicais, é pequeno o número de praticantes e
menor ainda o de atletas profissionais que tem o merecido incentivo e reconhecimento.
São grandes os desafios para ser um
skatista profissional no Rio de Janeiro. Para ilustrá-los, acompanhamos quem
treina no complexo de pistas do Parque Madureira, e tenta começar uma carreira.
Mesmo com patrocínio de uma marca
estrangeira de longboard, a holandesa Timber Boards, Ivan, 27, por influência
do pai, pratica o esporte desde os 12 anos e há cinco treina longboard na modalidade
freestyle para competir. Formado em ciência da computação, Ivan concilia o
trabalho de analista de sistemas com os treinos – descansando apenas na
segunda-feira – apesar de seu desejo de poder se dedicar integralmente ao
esporte.
Para participar das, em média quatro
competições por ano, esteve em cidades como São Paulo, Cabo Frio e São Pedro da
Aldeia, já tendo chegado a nove pódios. Ainda assim não consegue viver somente
dessas competições que disputa também em nível profissional. “É muito difícil
alguém que viva só do skate no Rio de Janeiro. Os que fazem, vivem fora daqui.”
Faz parte do time LongBode juntamente
com outros sete jovens dos quais cinco também têm patrocínio de marcas gringas
e competem na categoria pró, mas não conseguem fazer do skate suas profissões.
“Recentemente,
precisei viajar a trabalho por uma semana e quando voltei tive que recuperar o
ritmo, isso atrapalha o treinamento. No meu trabalho, muita gente não faz ideia
de que eu treino quase todo dia.”
O que a marca holandesa proporciona
para ele é o envio periódico de shapes, que pela qualidade são vendidos facilmente, mas por enquanto o patrocínio não é em dinheiro. A ajuda ainda
enfrenta a barreira do sistema de alfândega do Brasil.
“lá
fora (no exterior) o próprio governo do país ajuda as empresas a apoiarem
atletas, aqui é totalmente diferente, a gente paga o que já está
pago, porque me cobram taxa alfandegária por produtos que me foram dados. Os
donos da Timber são muito legais porque depois que descobriram que isso
acontece, me mandam um shape a mais pra eu poder arcar com o preço da taxa. Um deles me perguntou: 'vocês pagam algo que já está pago?!'”,
afirma Ivan que já sabe de cabeça a porcentagem do valor que é cobrada: de 0% a
75% do valor do frete e de 0% a 100% do valor total do produto.
Este cenário torna difícil
participar de todas as competições que gostaria: “Tirei da minha grana para
competir em Cabo Frio em abril, e no final do mês teve um campeonato em São
Bernardo do Campo/SP e fica muito difícil tirar mais do meu salário para
viajar. Se fosse pela minha vontade, nossa! Pegava meu carrinho (forma de chamar
o skate), minha mochila e iria na mesma hora!”
Lembra
que também tem o auxílio de roupas da Mafra ZN, marca de produtos para skate.
A falta de perspectiva no esporte
diminui inclusive o número de jovens praticantes na Zona Norte carioca “me
lembro de ter tanta gente andando que era difícil espaço para treinar no Parque
Madureira (risos). Muitos param de praticar por ser um esporte caro, as peças
quebram e você tem que repor, os tênis desgastam rápido também.”
Comenta que além de competir, o
próprio treinamento é um hobby que lhe traz um escape do stress do trabalho e do dia a dia, junto de um estilo de vida que é o meio social onde proporciona conhecer pessoas com quem se identifica e que talvez nunca conheceria em outros lugares.
"de skate posso cair quantas vezes for, a queda no longboard é meio de evolução, na vida trabalhista, fora do esporte, nem sempre se tem a chance de cair e aprender."
"de skate posso cair quantas vezes for, a queda no longboard é meio de evolução, na vida trabalhista, fora do esporte, nem sempre se tem a chance de cair e aprender."
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